Prezadas leitoras de WMulher, não exerço a contabilidade e sou engenheiro por formação, o que não me furta o prazer de poder utilizar deste simpático espaço para comentar sobre os constantes escândalos financeiros que tomamos conhecimento todos os dias pela mídia. Pesquisas recentes mostram que os principais executivos das grandes organizações, a maioria delas com um faturamento superior ao PIB de inúmeros países, estão cometendo atos ilegais, atos de banditismo explicito, na condução dos negócios dessas organizações. O “por que” destes atos ilegais não abordaremos aqui, neste texto. Queremos aqui refletir sobre como os atores podem representar papel de coibição de tais fatos. Fatos que podem desde confiscar uma poupança acumulada ao longo de uma existência até o engodo a um crédulo investidor, se é que os investidores possam ser assim chamados. Onde buscar informações para a tomarmos uma decisão de investir? Essa resposta vem de forma natural, na Contabilidade.
Contabilidade não é uma coisa repleta de tédio que alguns aprendem nas escolas, ela é uma ciência e cheia de mistérios e fatos interessantes a discutidos. Considero a contabilidade como uma linguagem, a linguagem dos eventos econômicos, com todo o complexo da semiótica e da teoria da comunicação dentro de seu arcabouço. Os profissionais da área da contabilidade e áreas afins devem compreender os signos/termos empregados nos negócios e na valorização dos eventos econômicos. Este é um dos requisitos necessários para o exercício profissional da função econômica/financeira, mas o que se percebe é que muitos termos geram diferentes interpretações por aqueles que utilizam essas informações. Este fato relevante tem encaminhamentos onde as informações econômicas e financeiras são consideradas como relevantes no apoio ao processo decisório ou são interpretadas aquém de seu potencial além de, por vezes, nos remeter a equívocos dada a impossibilidade de serem entendidas (McCABE, 1973; OLIVER, 1974). O entendimento da linguagem fará com que as atitudes dos atores econômicos possam ser melhor entendidos e portanto controlados pela sociedade.
Reconhecendo a existência de problemas que afetam o processo de comunicação das informações contábeis, diversos autores sugerem que se utilizem conceitos da Teoria da Comunicação para auxiliar na identificação de suas causas (THEOFILO, 2000). Girard (1990) utilizou diversos modelos inspirados na Teoria da Comunicação para descrever o processo da comunicação contábil e analisar a relação entre os fatores que influenciam a compreensibilidade das informações, tais como terminologia e experiência profissional. Num estudo intitulado “An Examination of Semiotic Theories of Accounting Accruals”, Etheridge (1992) propõe que a semiótica seja utilizada como instrumento de apoio à avaliação dos aspectos semântico, sintático e pragmático da informação contábil.
A Semiótica estuda a linguagem sob as dimensões sintática, semântica e pragmática, e a utilizaremos para se avaliar a qualidade da compreensão da fonte emissora do processo de comunicação contábil. Nesse caso, não se pretende verificar se os componentes do processo de comunicação das informações contábeis estão interagindo de forma adequada, o que se pretende é socializarmos a representação social da contabilidade para os vários atores emissores (fontes) do processo de comunicação contábil.
De acordo com as teorias da comunicação e da Semiótica, todos os elementos que compõem o processo de comunicação devem ser considerados de forma integrada, e nunca isoladamente. Em se tratando de avaliar a eficiência da comunicação, torna-se necessário contemplar múltiplos aspectos: habilidades comunicadoras da fonte e do receptor, seus níveis de conhecimento sobre o assunto veiculado, papéis no sistema social, o contexto cultural onde se encontram inseridas, adequações do código, conteúdo da mensagem, compatibilidade do canal e outros mais.
Para Horngren (1974), a Contabilidade é uma linguagem que tem vocabulário especialmente direcionado a relatar a história financeira das organizações e, como tal, precisa ajustar-se continuamente às necessidades de seus usuários, de forma semelhante, Iudícibus (1997) destaca a importância de se utilizar "uma terminologia clara e relativamente simplificada". Bedford e Beladouni (1962) afirmam que a comunicação contábil pode sofrer prejuízos na fase de produção, caso o contador não consiga interpretar e codificar adequadamente os fenômenos econômicos que pretende comunicar. Segundo Berlo (1999) a fidelidade da comunicação é influenciada pelas habilidades comunicativas da fonte, na medida em que influenciam a capacidade individual de analisar os próprios objetivos e intenções e de codificar a mensagem de maneira a expressar o que se pretende. Outro fator a ser considerado nesse contexto é o nível de conhecimento que o emissor possui, não apenas do assunto que será comunicado, mas também do próprio processo de comunicação.
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