quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Edgard Morin: O essencial renegado à marginalidade

Edgard Morin, pensador francês de 86 anos, fala em tom cadenciado. Recentemente, durante cerimônia que lhe conferiu o título de doutor Honoris Causa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Morin exibiu um semblante risonho, sereno, e agraciou os presentes com breves palavras num português perfeitamente inteligível.

Passado o calor da longa salva de palmas,Terra Magazine dirigiu-se a Morin, um dos mais influentes expoentes do pensamento contemporâneo nas ciências humanas. Buscava extrair-lhe alguma reflexão sobre o fenômeno que devastou mercados, abalou governos e levou um monstruoso sistema à própria contradição.

Geografia humana, etnografia, pré-história, história contemporânea, psicologia infantil, psicanálise, história das religiões, ciência das mitologias, história das idéias, arte, filosofia, ética, lógica, linguagem, método...

Crise econômica.

Morin é referência em inúmeros campos do conhecimento humano, e não se esquiva da indagação que lhe impele a refletir sobre os desdobramentos da atual crise financeira e econômica que assusta a tantos.

O O filósofo francês não divaga, nem entra no campo das previsões. Ele enxerga a questão do ponto de vista do pensamento. É conciso em sua crítica:

- Isto é um sistema que deve ser reformado. Não é apenas por causa do sistema econômico, mas também devido ao sistema de educação, que o pensamento sobre os problemas essenciais torna-se difícil. Este tipo de pensamento fica renegado a uma posição marginal.

Combatente nos anos da resistência francesa aos nazistas da Segunda Guerra Mundial, durante a década de 40 afinava-se ao Partido Comunista, até que divergências sobre preceitos stalinistas o fizeram sair do partido. Apadrinhado Maurice Merlau-Ponty, Pierre Georges e Vladmir Jankélévitch, nos anos 50 Edgard Morin foi aceito no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, da sigla em francês), instituto do qual se tornou diretor emérito em 2002. Morin também fundou a Associação para o Pensamento Complexo. Todavia, ele é simples ao concluir sua crítica:

- Então, eu penso de que de um lado temos o sistema econômico, que busca antes de tudo o lucro. E, de outro lado, temos um sistema de educação que impede o pensamento - arremata.

E se perde outra vez em meio a um mar de pedidos por flash e autógrafos.

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