Conhecer o mundo - ou o Brasil - gastando pouco é o sonho de muitas pessoas. Melhor ainda é poder conhecer lugares fantásticos e até pouco usuais na companhia de um anfitrião local, que possa mostrar restaurantes, bares e pontos de interesse geralmente desconhecidos da maioria dos turistas.
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Baseando-se nestas premissas é que foi criada a comunidade Couch Surfing (Surfando Sofás, em inglês), um misto de rede social, como o Orkut ou Facebook, mas com um propósito maior do que manter amigos em contato - o objetivo do site é promover novas amizades e um maior entendimento entre as culturas do planeta por meio de viagens e encontros entre pessoas com interesses similares.
Os interessados em participar da comunidade se cadastram gratuitamente no site e disponibilizam informações sobre seus gostos e atividades. Além disso, podem selecionar se têm ou não o interesse de receber visitantes em sua casa. Há também a opção de apenas conhecer pessoas que estejam de passagem por sua cidade. Ninguém é obrigado a nada e, mesmo disponibilizando o sofá para visitas, o participante tem total controle sobre quando e quem quer hospedar.
Conforme se cria uma rede de amigos que participam do Couch Surfing, o "surfista" vai recebendo recomendações e pontos de crédito que atestam sobre seu caráter e tornam os novos contatos mais seguros, o que facilita a oferta de estadias grátis quando se está viajando.
"O site Couch Surfing possui uma estrutura muito bem planejada e, pelo perfil da pessoa, você pode ficar mais ou menos seguro de ter contato com alguém. Por lá, você consegue ver o histórico das últimas pessoas com quem o seu futuro anfitrião ou surfista teve contato e os comentários a respeito. Quanto mais experiências e mais comentários, maior a segurança", explica Ricardo Abuhab, gerente de marketing de uma multinacional do ramo de bebidas e morador de Fortaleza.
Abuhab, de 33 anos, tem experiência no assunto. Mochileiro ávido, o rapaz já rodou mais de 50 países em cinco continentes. Além disso, desde 2008, quando se inscreveu na rede, já hospedou mais de 10 surfistas estrangeiros em seu apartamento e foi hospedado gratuitamente quatro vezes em países tão diversos quanto a África do Sul, Cingapura, Estados Unidos e Bielorrússia.
Além do trabalho de marketing e da extensa lista de viagens, Ricardo apresenta de forma voluntária um programa semanal sobre Rock - uma de suas paixões - em uma rádio de Fortaleza. Sua diversidade de gostos e interesses o tornam um anfitrião ou "surfista" altamente sociável e com quem é muito fácil interagir - características que contam muitos pontos quando você se dispõe a passar alguns dias na casa de um estranho ou receber desconhecidos em sua casa.
"Me inscrevi na comunidade pela oportunidade de conhecer pessoas locais quando viajo, que não pertencem à indústria de turismo. Isso me permite entender um pouco a realidade e perspectiva de pessoas de cada país que visito. Geralmente, o turista tem contato apenas com profissionais do turismo e conhecer pessoas locais fora desse meio é muito difícil. Por outro lado, quando se recebe alguém, é o momento de poder retribuir e mostrar um pouco de um Brasil que nós vivemos, longe das armadilhas turísticas que o estrangeiro está arriscado a cair", conta Ricardo.
Jovens mochileiros há décadas contam com uma ampla rede de albergues da juventude espalhada pelo mundo, mas além de preços que podem beirar os 30 euros por noite para uma cama em quarto compartilhado em alguns países, ao se hospedar nesses estabelecimentos, o viajante tende a ter contato somente com outros turistas.
"Uma das experiências mais gratificantes que tive foi quando me hospedei na casa de um americano em outubro de 2010, que eu havia hospedado na minha casa em Fortaleza um ano antes. Eu passei cinco dias em Chicago e ele preparou uma agenda cheia de atividades para garantir que eu realmente gostasse do meu 'surfe'. Ele me levou a shows de blues, fez um tour pelos lugares legais de Chicago a que nem todo turista tem acesso, além de uma rodada por restaurantes e bares da cidade. Havíamos ido de bicicleta ¿ Chicago é uma cidade praticamente plana. O difícil foi voltar para casa após irmos a seis bares em uma noite. Resultado: deixamos as bicicletas presas em um poste de luz e voltamos de táxi", diz Ricardo, rindo.
Experiências como as de Ricardo trazem para a viagem muito mais do que simples economia com hospedagem. Elas proporcionam a oportunidade de se experimentar um destino como uma pessoa local e criar vínculos que podem durar toda a vida.
Quando as coisas não dão certo
Nem tudo, no entanto, necessariamente dá sempre certo quando se recebe ou se hospeda na casa de estranhos ¿ anfitriões que vivem em casas imundas ou hóspedes folgados são coisas inesperadas que podem ocorrer. É sempre bom ter um plano de reserva para caso as coisas não saiam conforme o previsto.
"Não diria que tive uma experiência ruim com a comunidade, mas uma vez hospedei um argentino e uma francesa ao mesmo tempo na minha casa e ela não se deu bem com o argentino. Como ela iria ficar apenas uma noite e ele três, paciência, na manhã seguinte ela foi embora e tudo seguiu normalmente", diz Ricardo.
Segundo o gerente de marketing, uma das coisas que mais merecem atenção antes de decidir sobre o contato com outro participante são as recomendações feitas por outros em relação à pessoa.
Segurança é fundamental em contatos iniciados no mundo virtual e, se por um lado é impossível estar totalmente seguro sobre alguém com quem você está lidando, por outro, o Couch Surfing busca aumentar a probabilidade de contatos seguros por meio de um sistema no qual os demais membros endossam o participante. O sistema melhora a confiabilidade, mas também significa maior dificuldade em se tornar ativo no começo.
"Para quem está começando, às vezes é difícil ganhar experiências, aí segue a dica de ir para os encontros promovidos pelo que chamamos de embaixadores, que nada mais são do que encontros em bares e baladas promovidos por usuários mais experientes. E vale a regra: se tiver dúvida, não tenha contato", adverte Ricardo.
Inglês
O Couch Surfing é uma comunidade internacional e a grande maioria dos participantes é estrangeira. Isso não quer dizer que não haja brasileiros na rede. O site conta atualmente com mais de 30 mil membros no Brasil, o que significa boas oportunidades de viajar e conhecer pessoas de outras partes do país sem a barreira do idioma.
Falar inglês ou outra língua estrangeira, entretanto, enriquece a experiência e amplia muito a oportunidade de "surfar" ou receber membros de outras nacionalidades.
"Recomendo o Couch Surfing para pessoas que buscam interagir e realmente aprender sobre outras culturas, tanto viajando quanto literalmente sem sair de casa. Falar inglês é muito importante. Para quem está aprendendo ou quer manter, é também uma excelente oportunidade de praticar", afirma Ricardo.
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