segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bipolaridade é moda?

Este é o cache do Google de http://www.eca.usp.br/claro/2007/novembro/cassia_bipolaridade_transtorno_bipolar.html. Ele é um instantâneo da página com a aparência que ela tinha em 6 nov. 2009 02:43:07 GMT

Cassia Janeiro

Recentemente muitos artistas declararam ser portadores da Doença Maníaco-depressiva ou Transtorno Bipolar, como hoje é chamado. A lista é grande, tanto dos contemporâneos quan to dos que já nos deixaram: Van Gogh, Virginia Woolf, Paul Gauguin, Marlon Brando, Ernest Hemingway, Silvia Plat, Baudelaire, Alan Poe etc. Cássia Kiss e Stephen Fry são os mais comentados do momento por terem exposto suas feridas em público, fato que traz inúmeros benefícios quando se fala em combater o estigma que cerca as doenças mentais.

Certo dia fui dar uma entrevista num canal de TV por ocasião do lançamento do meu livro. O entrevistado que me antecedeu era um psicólogo famoso. Nos bastidores, o gentil apresentador nos chamou e disse que eu era bipolar. Para meu espanto, o psicólogo disse: “E quem não é?” Fiz uma lista para ele de quem não era: quem não tem oscilações patológicas, quem não tem predisposição genética, quem não precisa tomar remédio para o resto da vida... Enfim, a resposta do eminente psicólogo demonstra o nível de discussão a respeito de uma doença crônica, biológica em sua origem, potencialmente fatal e apenas controlável, mas incurável. Qual o impacto da patologia na vida de uma pessoa e no seu ambiente de trabalho?

As estatísticas mostram que, entre bipolares não tratados, 20% cometem suicídio. Metade faz ao menos uma tentativa, mas 30% escapam. Do total de suicídios, 98% se dão entre pessoas com transtornos mentais. Cerca de 36% acontecem entre bipolares, o maior percentual. A depressão é a primeira causa de afastamento do trabalho do mundo. Devemos considerar, contudo, que 40% das pessoas classificadas como somente depressivas (unipolares) são, na realidade, bipolares.

No Brasil a média de internações por transtorno mental é de 60,5 dias. Portadores de Transtorno Bipolar (TBP) perdem, em média, 65 dias de trabalho anualmente, somados aos 27 dias por aqueles acometidos por depressão. Entre os fatores estão as crises, que levam à hipo ou hipersonia, à dificuldade de se adaptar a uma rotina de trabalho e aos medicamentos. Por desconhecimento, essas pessoas, que sofrem profundamente, são classificadas como preguiçosas, inconstantes etc.

Em estado de mania ou hipomania, a pessoa praticamente não tem necessidade de sono e pode virar noites e noites trabalhando. A alta produtividade é aceita e estimulada, recebe elogios, mas poucos sabem que a hiperatividade tem um custo muito caro para os bipolares.

Como se tratar? O TBP não é diagnosticado pela depressão, que é quando a maior parte dos doentes procura um psiquiatra. Para ser bipolar, o indivíduo tem que ter tido pelo menos um episódio de mania ou hipomania. A doença demora, em média, 10 anos para ser diagnosticada e as pessoas passam por, pelo menos, 7 psiquiatras. A dificuldade está justamente em separar a depressão unipolar da bipolar. Um antidepressivo para um bipolar (sem regulador de humor), pode equivaler a dar um revólver em suas mãos. É a energia que falta para que o sujeito, que antes não tinha nenhuma força, acabe se suicidando. Por isso, é importante que, ao procurar um psiquiatra, o paciente seja claro quanto à sua genética (pais, irmãos, avós, tios, primos etc) e quanto aos episódios de mania ou hipomania, se houver.

O tratamento para TBP é medicamentoso (para o resto da vida), com estabilizador de humor e, em alguns casos, associado a antidepressivos. A psicoterapia tem papel importante, desde que acompanhada pelo medicamento, que é essencial. Bipolares que não se tratam vivem, em média, 8 anos menos que a população geral. A aderência ao medicamento é essencial para o equilíbrio.
Pessoas com transtornos mentais ou doença mental continuam a ser prejudicadas e discriminadas em todas as áreas de suas vidas, como encontrar um lugar para viver ou um trabalho. Não é surpreendente que muitos com doença mental grave terminem pobres ou sem teto. Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com nossas atitudes e nossos preconceitos.

Os transtornos mentais afetam não apenas quem sofre deles, mas a família, os amigos e, se formos pensar solidariamente, a todos.

Como reconhecer a mania?

Para ter característica de mania é necessário ter 3 ou mais sintomas abaixo descritos:

  • sensação de grandiosidade, a pessoa se acha o máximo ou fica irritada sem motivo;
  • gasta muito dinheiro em coisas sem importância e pode fazer dívidas desnecessárias;
  • diminui o número de horas que dorme, sem perder energia ou ânimo;
  • tem muitas idéias, pensamento rápido;
  • fala rápido (tagarela), pulando de um assunto para outro;
  • não consegue prestar atenção por muito tempo em uma coisa, distrai-se facilmente, age sem pensar;
  • corre riscos, não vê perigo por se achar “poderoso” (dirige perigosamente, briga verbal ou fisicamente com desconhecidos, envolve-se sexualmente com várias pessoas);
  • pode usar álcool e drogas;
  • tem a sensação de ser poderoso, de ter habilidades e dons especiais, de ser invencível;
  • agride as pessoas fisicamente ou com palavras;
  • perde ou diminui a capacidade de analisar as situações;
  • em casos mais graves, pode ver coisas, ouvir vozes e delirar;
  • fica muito irritado ou alegre demais, exageradamente, sem nenhum motivo.

*A hipomania é um estado de euforia um pouco mais leve que a mania e pode ser tão ou mais grave, já que, na maioria das vezes, ninguém repara e é confundida com estados de alegria, muito trabalho ou de irritação. Isso dura dependendo da pessoa. Às vezes, pode levar anos sem que ninguém perceba.

Como reconhecer a depressão?

A depressão é geralmente confundida com tristeza. Mas a tristeza é um sentimento comum quando acontece alguma coisa ruim em nossa vida. Quando esse sentimento demora demais ou não tem sentido para quem olha de fora, pode-se falar em depressão. Ela pode se arrastar por dias, meses ou até anos.
Os principais sintomas são:

  • sentimentos profundos de tristeza;
  • sensação de vazio, falta de esperança que, em alguns casos, pode se mostrar como irritação;
  • perda ou diminuição do interesse por coisas que antes davam prazer (trabalho, diversão, sexo);
  • diminuição ou aumento de peso/apetite;
  • excesso ou diminuição da necessidade de sono;
  • inquietação ou sensação de estar mais lento para fazer tarefas que antes fazia sem dificuldade;
  • cansaço exagerado, sensação de fraqueza;
  • pensa que é inútil, é pessimista, se desvaloriza e se sente culpado;
  • não consegue pensar direito, se decidir ou lembrar das coisas;
  • pensa em morte e pode fazer planos para se matar;
  • tem dores ou outros sintomas físicos sem causa nenhuma.
Como reconhecer o estado misto?

O paciente:

  • fica maníaco e depressivo ao mesmo tempo (pensamentos ruins e angustiantes de forma muito rápida);
  • muda de humor sem motivo nenhum. A pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e eufórica com o passar do dia, ou o contrário;
  • fica agitado e angustiado, não tem esperança e tem vontade de morrer. Pode ter ataques de raiva, e ficar explosivo;
  • não consegue dormir e come demais ou de menos;
  • em casos mais graves, o paciente pode ver coisas e ouvir vozes;
  • pode chorar e rir ao mesmo tempo ou chorar e depois rir sem motivo nenhum e mudar de repente.

A característica mais marcante no episódio misto é um sentimento ruim, de um peso no peito, de tristeza e de angústia misturados, mas muito agitado e, às vezes, com raiva.
Saiba mais:

Sites sobre bipolaridade

www.abt.org.br

  • Janssen-Cilag

www.janssen-cilag.pt/disease/detail.jhtml?itemname=bipolar

  • Portal de Psiquiatria

http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=367&sec=26

  • Psicosite

www.psicosite.com.br

  • UNIFESP - EPM

www.unifesp.br

  • CREMESP – Conselho Regional de Medicina de São Paulo

www.cremesp.org.br

  • Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares

www.adeb.pt

LIVROS


TÍTULO

AUTOR

1. Bipolaridade e Temperamento Forte

Diogo Lara

2. Da Psicose Maníaco-Depressiva ao Espectro Bipolar

Ricardo e Doris Moreno

3. Dentro da Chuva Amarela

Walter Moreira

4. Digerindo a Bipolaridade

Alexandre Fiúza

5. Não sou uma só: o Diário de uma Bipolar

W. Marina

6. O Brilho de sua Luz

Danielle Stell

7. Perturbação Bipolar – Guia para Doentes suas Famílias

Francis Mondimore

8. Quando a Noite Cai – Entendendo o Suicídio

Kay Redfield Jamison

9. Touched wih Fire

Kay Redfield Jamison

10. Uma Viagem entre o Céu e o Inferno

Luiz Humberto Leite Lopes

11. Uma Mente Inquieta

Kay Redfield Jaminson

12. Um Bipolar que deu Certo

João Henrique Machado de Ávila

Filme:

  • Mr. Jones- filme com Richard Geere
  • Documentário do ator Stephen Fry em 14 partes. Abaixo, o link da Parte 1. As demais podem ser vistas ao clicar no lado direito da tela seguindo a seqüência.

http://www.youtube.com/watch?v=iO_ESsTVf78

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